Empresa privatizada criada por ex-agentes da CIA atua como grupo mercenário no Iraque

julho 22, 2008

Por Carlos Eduardo

 

América Latina pode ser a próxima

 

Entrevista interessante com jornalista norte-americano sobre o poder paralelo instalado no Iraque. A ação de grupos mercenários privados tem o aval do governo Bush e possui ex-agentes da CIA como idealizadores. É uma espécie de nova cruzada implementada pelo governo Bush. Os grupos são uma espécie de milícias privatizadas.

 

A ação não se restringe ao Iraque. Até mesmo a Onu já utiliza a ação de grupos privados similares.

 

Segundo o jornalista, o mesmo grupo (Blackwater) que age no Iraque está cotado para implementar a tal “guerra contra o narcotráfico” na América Latina. O contrato seria de 15 bilhões de dólares pagos pelo governo norte-americano.

 

Assista a entrevista exibida no programa Milênio.


Sugestão para comunidade no Orkut:”Meu pai cancelou assinatura da VEJA”

julho 2, 2008

Por: Carlos Eduardo

 

O texto abaixo não traz nada revelador para os críticos da revista VEJA. No entanto consegue ser jocoso ao tratar com uma pitada de ironia o papel de alguns meios de comunicação em nosso país. Seu tema daria uma excelente comunidade no Orkut. Fica a sugestão!

 

A VEJA E O MEU PAI

Por Roberto Efrem Filho*

 

Hoje, dia 10 de junho do ano de 2008, foi o dia em que meu pai cancelou a renovação da Revista Veja. É bem verdade que há fatos históricos um tanto quanto mais importantes e você deve estar se perguntando “o que cargas d’água eu tenho a ver com isso?”. Não é nenhuma tomada de Constantinopla, queda da Bastilha ou vitória da Baia dos Porcos. É um ato de pequenas dimensões objetivas, realizado no espaço particular de uma família de classe média brasileira, sem relevantes conseqüências materiais para as finanças da Editora Abril, sem repercussões no latifúndio midiático nacional. A função deste texto, portanto, é a de provar que meu pai é um herói.

A Revista VEJA se diz assim: ”indispensável ao país que queremos ser”. Começa e termina com propagandas cujo público alvo é a classe média e, nela, claro, meu pai. Banco Bradesco, Hyundai, H. Stern. Pajero, Banco Real, Mizuno. Peugeot, Aracruz, Nokia. Por certo, a classe média  – inclusive meu pai – dificilmente terá acesso à grande parte dos bens expostos na vitrine de papel. Não importa. Mais do que o produto, a VEJA vende o anseio por seu consumo. Melhor: credita em seu público-alvo, a despeito de quaisquer probabilidades, a idéia de que ele, um dia, chegará lá.

Logo no comecinho, na terceira e quarta folhas, estão as páginas amarelas da Revista. Nelas, acham-se as entrevistas com personalidades tidas como renomadas e com muito a dizer ao país. Esta semana a VEJA apresenta as opiniões de Patrick Michaels (?), climatologista norte-americano que afirma a inexistência de motivos para temores com o aquecimento global. Na semana passada, deu-se voz ao “jovem herói” Yon Goicoechea (?), um “líder” estudantil venezuelano oposicionista de Chávez e defensor da tese de que a ideologia deve ser afastada para que a liberdade seja conquistada contra o regime “ditatorial” chavista.
Não. Não é que a VEJA não conheça o aumento dos níveis dos mares, dos números de casos de câncer de pele, do desmatamento da Amazônia, da escassez da água e dos recursos naturais como um todo e de suas conseqüências na produção mundial de alimentos. Sim, ela conhece. Não. Não é que ela não saiba que um estudante não representa sozinho o posicionamento democrático de uma nação e que um governo legitimamente eleito não pode ser chamado de totalitário. Sim, ela sabe. Do mesmo modo que conhece e sabe da existência de diferentes opiniões (ideológicas, como tudo) sobre ambosos assuntos e não as manifesta. Acontece que isso ela também vende: o silêncio sobre o que não é lucrativo pronunciar.

Do meio pro final da Revista estão os casos de corrupção. Esta é a parte do “que vergonha, meu filho, quando isso vai parar?” dito pelo meu pai, com decepção na voz. A VEJA desenvolve um movimento interessante de despolitização nesse debate. Ela veste o figurino do combatente primeiro da corrupção, aquele sujeito que desvendará as artimanhas, denunciará os ladrões e revelará “a” verdade, única, inabalável. Com isso, a VEJA confere centralidade à corrupção no debate político, transformando a política em caso de polícia e escondendo o fato de que o seu próprio exercício policialesco é inerentemente político.

No fim, “todo político é ladrão” – menos os do PSDB, claro, todos “intelectuais” -, “política não presta”, o que presta mesmo é a Revista VEJA.  A Revista é ainda permeada por textos de cronistas e colunistas. Estão, entre seus autores, Cláudio de Moura Castro, Lia Luft e Roberto Pompeu de Toledo. Todos dignos do título de “cidadão de bem”, conscientes e responsáveis. Evidentemente, todos de posicionamentos um tanto moralistas e um tanto conservadores. Difere-se deles Diogo Mainardi. Este, conhecido por chamar o Presidente da República de “minha anta” e por sua irreverência desrespeitosa e direitista, escancara a alma da VEJA. Mas não se engane. Não é Mainardi o perigo. São os outros.

Foram eles que meu pai um dia leu com respeito e é aquela auto-imagem que a VEJA quer – como tudo – vender. Sem dúvida a Revista VEJA é ainda mais que isso. Suas estratégias de persuasão vão muito além dos limites deste breve texto. Afinal, é ela a revista mais lida no país, parte significativa de um império da concentração do poder de informar. Seja nas suas “frases da semana”, nas quais há de costume as fotografias de uma mulher bonita dizendo bobagem e de um homem-autoridade falando coisa inteligente e importante, seja no fetiche da citação “eu li na VEJA”, faz-se ela um dos mais eficazes instrumentos de convencimento a favor da classe dominante.

Meu pai, por sua vez, é um trabalhador. Casado com Fátima, minha mãe, e pai também de Rafael, criou seus filhos com princípios que ele preserva como inalienáveis. Já votou no PT. Já votou no PSDB e mesmo no PFL (“porque foi o jeito, meu filho!”). Opõe-se a qualquer tipo de ditadura (conceito no qual incluía até pouco tempo o governo de Chávez: coisas da VEJA). Já se disse socialista, na juventude. É praticante da doutrina espírita desde menino. Discorda de mim em milhares de coisas. Concorda noutras. É um bom e sonhador homem com quem eu quero sempre parecer.

Hoje, ele cancelou a renovação da Revista VEJA, aquilo que para ele já foi seu meio de conhecimento do mundo, depois de chamar de “idiota” a entrevista daquele herói das páginas amarelas sobre o qual falei acima. Antes, havia criticado fortemente um artigo de Reinaldo Azevedo publicado na Revista, em que Azevedo falava atrocidades sobre Paulo Freire: “meu filho, veja que besteira esse homem está dizendo sobre Paulo Freire”. Hoje, ele operou uma mudança nesta realidade tão acostumada à perpetuação do estabelecido. Hoje, para o mundo, como em todos os dias da minha vida para mim, meu pai é um herói.

*Roberto Efrem Filho é mestrando em direito pela UFPE e filho de “Roberto Efrem”, a quem dedica este artigo

 


Governo oferece até avião em troca de aliança….

julho 1, 2008

 

Operação abafa e poder de sedução

Qualquer um sabe: PT e PSDB querem empurrar sua aliança informal para a prefeitura de BH, um acordo que brinca com a administração municipal em nome do fortalecimento de Minas para concorrer à presidência em 2010, e em troca desse apoio, quem sabe, não sobra um Palácio da Liberdade para quem colaborar…..

Para isso vale qualquer uma: esquecer convicções históricas, confundir máquina pública com iniciativa privada e empurrar ao eleitor candidatos sem expressão política nem experiência nas urnas, gente que nunca recebeu sequer um voto e só chegou ao primeiro escalão através e alianças, reuniões, reuniões, alianças e maquiagem nos gastos públicos. E o instrumento da propaganda eleitoral a seu serviço, já que cada aliança construída gera alguns segundos de tempo de rádio e televisão. Segundos preciosos, que fatalmente transformam o agradecimento pelo apoio em secretarias, gerências…

Bem, para construir um blocão na capital PT e PSDB vão minando, além dos próprios aliados históricos, os aliados dos outros: não é que para tirar o PV da jogada e ganhar seu apoio o governador não pode wer oferecido até avião ao presidente nacional do PV para assistir Brasil X Argentina no Mineirão? Mas, na edição seguinte, a colunista apressou-se a  divulgar uma nota da assessoria do governo desmentindo a história do tal avião….


Novo Formato, Velho Discurso

junho 11, 2008

    No dia 24 de março deste ano, o jornal mineiro “O Tempo” revelou-se diferente aos leitores. O impresso sofreu reformulação gráfica e editorial e ganhou o charme do formato tablóide. Decisão acertada, pois demonstra coragem dos editores em contrariar a cansativa austeridade dos tradicionais “jornalões”.

      Porém, algumas mudanças evidenciaram covardia. O destaque vai para a página de ciência e saúde, nomeado “Interessa” após a reforma. Significa que o “O Tempo” optou pelo clichê de espetucularizar a informação como premissa para atrair leitores, em vez de aperfeiçoar o discurso e produzir matérias qualificadas. Além disso, o espaço para a divulgação científica continuou reduzido (exemplo observado em diversos jornais brasileiros), o que contradiz a crescente evolução da ciência no século XXI.

      Cabe analisar a irresponsabilidade da escolha editorial. Ora, a ciência influi na vida do ser humano e por isso as pessoas, por meio de debate, devem participar do desenvolvimento científico. Já a mídia, capacitada em formar o senso comum (se lembrarmos Habermas, quando descreve o conceito de opinião pública), deve ser responsável por mediar a relação sociedade-ciência. Portanto, um jornal com a amplitude do “O Tempo” não pode isentar-se de promover esse diálogo.

      Mas se isenta. As notícias científicas veiculadas no impresso são apenas reproduções dos releases das agências internacionais. Isso compromete a produção dos “jornalistas da casa”, que por obedecerem ordens e lidarem com a velocidade da informação não têm cacife e tempo para alterar esse modelo. Assim, esses profissionais não contestam os dados recebidos das agências, como se o material ali publicado fosse intocável, um artefato humano nunca precedido de erro. É preciso de mais para ser jornalismo. Além disso, essa forma de produção desqualifica o trabalho dos cientistas brasileiros, que mal são consultados como fontes informativas. 
 

     Dialética da produção 

     A ciência é importante para sociedade, né. Então, Qual o motivo para o desprezo do jornal “O Tempo”, e também de outros impressos brasileiros, pelas notícias científicas? Falta de interesse público? Mas como um tema influente na vida da população não desperta interesse? A negligência dos periódicos na produção de conteúdo sobre ciência é contraditória. Para se ter idéia, o Ministério da Ciência e Tecnologia, em pesquisa realizada em 2007, comprova o mérito que a sociedade brasileira atribui aos avanços científicos. De acordo com a pesquisa – denominada “Percepção da Ciência e Tecnologia” -, 76% das pessoas se interessam por ciência e gostariam de receber mais informações sobre o tema. Além disso, 91% são atraídas por medicina e saúde e 90% pelo meio ambiente.

      Esses dados tornam incompreensível o retrocesso dos jornais brasileiros na produção de conteúdo científico. As empresas de comunicação, juntamente como o governo e a comunidade científica, deveriam investir na divulgação da ciência e incentivar a qualificação profissional dos jornalistas. Perceber que a inovação não pode prender-se ao formato, mas também transformar as características do discurso, este sim, produto fundamental do jornalismo.

     Alicia Ivanissevich, no texto “A mídia como intérprete”, publicado em 2005, aponta algumas razões para um maior empenho do governo e dos cientistas na divulgação da ciência. Razões que também fazem parte do papel das empresas comunicacionais. A autora argumenta: “Primeiro, acredita-se que uma população alfabetizada em ciência seria essencial para formar uma força de trabalho especializada e mais bem treinada, o que resultaria em maior prosperidade para a nação. Um melhor entendimento da ciência teria também repercussões diretas no dia-a-dia dos indivíduos, como o maior cuidado com a própria saúde” (…). Sim, é preciso lembrar que os jornais também têm a obrigação de educar e produzir conteúdo com responsabilidade social.  
 

Ciência versus Jornalismo 

     Há quem leia este artigo e questione por que não enfatizei a conflituosa relação entre cientistas e jornalistas. Realmente existem paradoxos, há muito discutidos por autores que versam sobre ciência. Como exemplos temos a velocidade do jornalismo versus o demasiado tempo de estudo para concluir um projeto científico; a tradicional arrogância dos cientistas e a dificuldade de apuração – que é agravada pela desqualificação profissional dos jornalistas; ou a exatidão dos termos de ciência em contrapartida à simplicidade das reportagens do jornal.  

     No entanto, chega de bater nesta relação e tentar criar paradigmas a ela. É necessário rememorar que a posição editorial de um jornal é determinada por uma empresa capitalista, e esta tem poder para coordenar os modos de produção. Esta, assim como os jornalistas que lhe fazem funcionar, também deve compreender a relevância da mídia na divulgação científica.        

 

 


Mídia hegemônica utiliza discurso do movimento dos trabalhadores para confundir telespectador

maio 30, 2008

Manifestantes em frente ao Palácio da Liberdade

 

 

Veja no vídeo abaixo como o telejornal de TV mineira tratou as manifestações realizadas no dia 28 de maio e confundiu propositalmente as propostas das reduções de jornada em Minas e no Brasil.

Clique e veja

 

 

Para entender o caso

Acontece em todo o Brasil uma campanha pela redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas. Segundo o estudo levantado pelo DIEESE, respeitado orgão de pesquisas, a redução dessas quatro horas sem redução de salários geraria mais de 2,2 milhões de novos empregos com impactos mínimos na folha de pagamento.

 

Em Minas, um projeto de lei que autoriza o reajuste para os funcionários públicos da Saúde recebeu uma emenda do governo que aumenta de 30 para 40 horas a jornada de trabalho da enfermagem da Fhemig. Alegando contrariedade com a proposta que avança nacionalmente, entidades representativas dos trabalhadores da saúde de MG aderiram a campanha nacional e fizeram da situação da enfermagem da Fhemig o carro-chefe das manifestações em MG.

 

Em matéria divulgada em telejornal, a reportagem utiliza o discurso dos manifestantes para confundir as propostas. Vale a pena conferir.

Clique e veja.

 


O avião que os canais de notícia derrubaram em SP

maio 23, 2008

Na última terça, (20), um incêndio destruiu parte de um prédio comercial na zona Sul de São Paulo. Com os trabalhos dos bombeiros para apagar as chamas, o trânsito ficou lento e logo refletiu em toda a cidade, causando mais um congestionamento recorde.  Mas quem virou notícia foi a própria imprensa: por causa da fumaça causada, alguns portais e canais de TV chegaram a noticiar que um avião era responsável pelo acidente. Sim, veículo que é pautado por outro, sem checagem coerente, divulga isso: viu fumaça, caiu avião caiu na cidade.  Resquícios da invenção do caos aéreo, talvez.

 

Puxados pela Globo News, que chegou a afirmar que o avião seria da companhia Pantanal, Terra, Uol, Folha, Estadão e IG noticiaram o acidente sem qualquer fonte segura, apenas porque o concorrente também o fez. E, em seguida, a CNN já retransmitia a informação. Sem nenhuma consulta à Infraero, que logo desmentiu a queda, fazendo com que todos retirassem seus vídeos do ar e se apressassem a produzir retratações.

 

O avião que não caiu é só mais um exemplo que nos faz refletir sobre o papel do jornalista nestes tempos de notícias instantâneas. Colocar uma imagem exclusiva na rede não é muito difícil. Basta ser testemunha ocular de um fato e ter uma câmera a postos. Mas casos assim nos fazem pensar para que serve um jornalista: checar o que é recebido, e não apenas retransmitir o que está no ar. Construir a notícia não quer dizer inventá-la, mas se preocupar em divulgar informações com credibilidade e assumir seu recorte.

 

E a mente fértil de quem citou até a companhia aérea do avião que nunca passou por ali?????

 

 

 

 


DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

abril 30, 2008

 

Abertas as inscrições para o I Fórum de Mídia Livre

Estão abertas as inscrições para o I Fórum de Mídia Livre, que ocorrerá no Rio de Janeiro, nos dias 14 e 15 de junho. O evento é parte de uma ampla mobilização de jornalistas, professores, estudantes e ativistas pela democratização da comunicação em defesa da diversidade informativa e da garantia de amplo direito à comunicação.

RIO DE JANEIRO – A mobilização para o fórum começou em uma reunião em São Paulo envolvendo 42 jornalistas, estudantes, professores ou pessoas atuantes na área das comunicações, de diferentes regiões do Brasil. Entre outras questões, discutiu-se o avanço do movimento de comunicação da mídia livre em todo o país, de modo a fazer frente aos grupos conservadores que concentram as atividades da comunicação social no Brasil.

O setor de comunicação, segundo o manifesto em construção disponível no site do Fórum de Mídia Livre, “não reflete os avanços que ao longo dos últimos trinta anos a sociedade brasileira garantiu em outras áreas. Isso impede que o país cresça democraticamente e se torne socialmente mais justo”. E continua: “A democracia brasileira precisa de maior diversidade informativa e de amplo direito à comunicação. Para que isso se torne realidade, é necessário modificar a lógica que impera no setor e que privilegia os interesses dos grandes grupos econômicos (…)”.

Um dos objetivos, ainda segundo o texto, é a democratização das verbas públicas, apoiando que “as verbas de publicidade e propaganda sejam distribuídas levando em consideração toda a ampla gama de veículos de informação e a diversidade de sua natureza; que os critérios de distribuição sejam mais amplos, públicos e justos, para além da lógica do mercado; e que ao mesmo tempo o poder público garanta espaços para os veículos da mídia livre nas TVs e nas rádios públicas, nas suas sinopses e meios semelhantes”. O documento está disponível no site do evento

Antes mesmo do evento no Rio de Janeiro, o movimento social de comunicação já está se mobilizando em oito cidades: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Fortaleza, Recife, Aracaju e Salvador. Os primeiros relatos já estão disponíveis no site. O próprio evento é um importante passo na discussão e deliberação sobre os rumos do movimento social de comunicação.

Programação
O I Fórum de Mídia Livre acontecerá dias 14 e 15 de junho de 2008 (sábado e domingo), das 9h às 17h (com pausas entre os debates e grupos de trabalho). Será realizado no campus da UFRJ da Praia Vermelha, no Auditório Pedro Calmon do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e salas anexas. Endereço: Avenida Pasteur, 250 – Praia Vermelha. O Auditório Pedro Calmon fica no segundo andar do FCC. Confira em breve no site do evento a programação completa do evento.

Inscrições
A participação no I Fórum de Mídia Livre é aberta e a inscrição é obrigatória. Os participantes podem também se informar sobre os pré-encontros em suas respectivas cidades. O custo individual da inscrição é de R$15 (quinze reais) para o público em geral e R$5 (cinco reais) para estudantes, pagos no dia do evento, junto à secretaria executiva do evento. A secretaria executiva do evento emitirá um certificado de participação para os que compareceram nos dois dias de evento.

A inscrição no I Fórum de Mídia Livre não garante, por ora, o transporte, estadia e alimentação dos inscritos, que no entanto estão sendo negociados. Inscreva-se já e participe dos debates.


A imagem de um milhão de dólares

abril 28, 2008

 

Essa imagem foi desejada por certos setores da imprensa por um mês. Ela representa os anseios de vingança e justiça que permeiam a ‘opinião pública esclarecida’ desse país. Após o assassinato da menina, apareceram versões, contradições, testemunhas de última hora, advogados convictos, gente que ouviu falar, curiosos jogando pedra, todos alinhados com a pseudo-narrativa inventada às pressas nos meios de comunicação como se fosse um capítulo de mini-série. A tensão pelo capítulo seguinte justificou o tempo dedicado à cobertura do caso por todos os canais de televisão aberta e seguidas manchetes de jornais e por aí afora. Todos os ingredientes estavam lá, faltava apenas o clímax: a boneca simulando Isabella pendurada na janela. Agora não falta mais: é por isso que o Datena quase babou de satisfação hoje ao descrever a reconstituição. Quem ‘gosta’ de acompanhar o caso precisava dessa imagem. Ela denuncia brutalmente a exploração em torno do assassinato da menina, em nome de jornalistas justiçados, anunciantes felizes e espectadores esclarecidos.

Eu não queria escrever sobre esse caso. Não quero fazer o jogo deles. Por enquanto, pelo menos, tenho escolha: não quero cobrir uma aberração nem legitimá-la para quem lê. So o que vale para eles é vender jornal: não interessa se você compra para acompanhar ou criticar o assunto. Eis minha escolha: não comprar. Esse post, espero, é uma exceção.

O espaço aéreo foi fechado, os curiosos foram mantidos à distância por grupos policiais especiais (que, claro, não tinham ocorrências significativas na cidade para cobrir) e os peritos não deram entrevista. Pra que esse espetáculo montado, essa comoção construída através de um meta-acontecimento, se as câmeras estavam presentes? Logo elas, as únicas que não poderiam estar ali? Faz sentido esse show todo?
O portal G1 afirma: 98% da população brasileira conhece o caso, tamanha a repercussão midiática nesses 30 dias. E o fato mais grave: 71,8% aprovam a cobertura da imprensa. E ainda há quem diga que a ‘bala mágica’ não existe.

Repórteres descrevendo o trabalho dos peritos com a boneca: no mínimo grotesco. “O perito soltou o braço esquerdo, a boneca pendeu para o lado direito. Agora o perito soltou o braço direito, a boneca pendeu….” Nãããããão…… e esse tipo elementar de comentário não foi só em uma emissora…

Só faltou a imagem de R$ 2 milhões de dólares: a boneca caindo. Sabe porque ela não foi jogada também? Porque custou R$ 2,5 mil e é material da polícia que poderá ser usado para outras reconstituições.
Enquanto isso, o trânsito de São Paulo não pára mais, a chuva deixou de castigar o nordeste, os cartões corporativos têm prestação de contas e ninguém mais morreu, como naquela história do Saramago…


Caso Isabela versus 552 homicídios

abril 18, 2008

Adivinhe qual pauta a mídia hegemônica privilegiou?

 

 

No dia 11 de abril, o Jornal Bom Dia Brasil apresentou uma matéria de 9 minutos e 3 segundos para o caso da garota Isabella. Na parte da tarde foi a vez do Jornal Hoje exibir outra matéria de 8 minutos e 24 segundos sobre o caso. Cobertura similar foi feita pelo Jornal Nacional com 7 minutos e 55 segundos. Um pouco mais tarde, foi a vez do Jornal da Globo dedicar 5 minutos e 44 segundos. A novidade do dia era o fim das prisões temporárias do pai e madrasta da garota.

 

Desde o dia do crime, os telejornais de todas as emissoras têm dedicado cobertura semelhante ao caso (essa não tem sido uma característica apenas da rede Globo). Dia após dia passamos a acompanhar a “trama” nos diversos tipos de programas televisivos, todos, no entanto, abordando a questão em tom “novelístico”, vide a repercussão e o tempo de cobertura explicitado acima.

 

Dia 11 de abril

Chamo a atenção para o dia 11 de abril, pois no mesmo dia em que a rede Globo dedicava em seus telejornais nacionais pouco mais de 31 MINUTOS para a cobertura do caso Isabella, uma notícia desconcertante era veiculada no Jornal Nacional.

 

Com tempo de 1 MINUTO e 55 SEGUNDOS, a matéria informava que entre janeiro e março de 2008, 552 pessoas foram assassinadas na região metropolitana de Salvador. 436 apenas na capital.

 

Na reportagem, o secretário de segurança pública da Bahia, lamentava que diante do caos social restava como opção, o aumento do efetivo da polícia (mais precisamente 3,2 mil homens para a Polícia Militar e quatro mil na Polícia Civil).

 

Mais uma vez, o discurso favorável à repressão ganhava destaque no horário nobre.

  

Dentre esses 552 homicídios é bem provável que dezenas tenham sido cometidos em situação similar, senão pior, que o ocorrido com Isabella. Porém, ao contrário deste, os crimes da periferia de Salvador (e também os de BH, Rio, São Paulo, Belém, Natal e outros) são originados da exclusão social – um debate que pouco interessa à imprensa hegemônica, afinal, a criminalização de tais acontecimentos atende melhor a pseudo-indignação dos “colonistas” e sua mídia.

 

É impossível não questionar o fato de que uma mesma notícia receba uma cobertura de mais de 30 minutos, num mesmo dia, 12 dias após ocorrido aquilo que a levou ao público. O caso Isabella apresenta todos os pré-requisitos técnicos de uma notícia de “sucesso”, vide nossos valorosos manuais.

 

Se esta é a mídia que domina nosso país, questioná-la não é apenas uma questão ideológica. É também uma questão ética.


Música Marginal e o Stablishment

abril 14, 2008

 

Meu primeiro post aborda o preconceito em relação a estilos musicais marginais e a incompreensão sobre seu contexto de composição. Ele é estruturado à luz da condenação de uma produtora de funk a pagar multa por danos morais por ter lançado, há quase dez anos, uma música supostamente ‘violenta’.

Música Marginal e o Stablishment

Uma matéria incomum ocupou a Justiça (e a Imprensa) brasileira no fim de março: a 7ª Vara Federal de Porto Alegre condenou a produtora de funk Furacão 2000, do Rio de Janeiro, a pagar R$ 500 mil reais por danos morais por conta da música “Tapinha não dói”, hit do ano 2000. A alegação da Justiça Federal: a letra da música representaria uma agressão às mulheres, através de uma visão preconceituosa que banalizaria a violência. O tema foi debatido nos meios de comunicação por juristas, jornalistas, ongueiros, blogueiros, adeptos e detratores do estilo.

O preconceito, nesse caso, foi demonstrado pela Justiça. Parte da sociedade que acusa a devassidão e a falta de profundidade das letras de funk não consegue compreender seu contexto de produção e sua inserção em nossa cultura – sim, música marginal também é cultura. Não, marginal não é feita por bandido, marginal é tudo que está à margem, fora do stablishment em voga. Marginal é toda forma de cultura localizada fora dos padrões dos ‘bons costumes’ propagados e reproduzidos pelos diversos estratos sociais.  

Se o funk – desde seus primórdios nova-iorquinos aos bailes cariocas – é extremamente politizado (ao denunciar a violência contra os excluídos ou incitar ao confronto) ou agressivamente permissivo (pelas letras de manifesto apelo sexual), seria proveitoso questionar suas razões. Não é curioso um gueto passar a ter voz, descrever sua realidade, tomar conta das festinhas da zona sul, fazer produtores mais ou menos estabelecidos lucrarem ao agregar freqüentadores que ‘estão na moda’ e depois ser condenado a pagar por ter causado danos à moral vigente? Posso compartilhar diversas críticas ao funk (como a falta de vontade de tomada de consciência para mudar a própria situação, a variação insossa das batidas, que se resumem quase sempre à mesma programação), mas não há como não assumir que, se as letras só sabem falar de um sexo descomprometido, animalizado, que transforma os seres em máquinas que não podem falhar para não perder a credibilidade, com relacionamentos fluidos e indiferenciados (força um pouco e pensa em Bauman), é porque quem compartilha essa realidade não tem acesso a outras formas simbólicas, que permitiriam uma abstração sobre o cotidiano e, conseqüentemente, levariam a outros temas. Ou você acha que são oferecidas muitas escolhas?

O funk choca, não? Sem adentrar em comparações estéticas ou musicais, mas analisando apenas as acusações, observemos. Bater em música marginal é simples. Imagine o choque que não provocou Elvis Presley, com aquela dança ‘com apelo sexual’, ‘selvagem’, cantando uma música ‘depravada’, nos anos 50, frente ao conservadorismo, o mesmo que condenava Jerry Lee Lewis e tantos outros, quando o rock era marginal.  Imagine o estrago causado nos anos 70 pelo punk, uma resposta do submundo ao ‘papo cabeça’ do rock progressivo. Caras de roupa rasgada, moicanos, tocando muito pouco ou quase nada, cuspindo na platéia, quebrando os próprios meios de produção, com uma agressividade até sem razão, refletindo a falta de perspectivas de uma geração desempregada e relegada a crimes fortuitos. Hoje é cult. Já foi marginal, ‘apelativo’, ‘depravado’, ‘baixo nível’, ‘imoral’, etc, etc.

Se ‘Tapinha não dói’ foi condenada uma década depois do lançamento a R$ 500 mil (com correções monetárias o valor pode ultrapassar R$ 1 milhão de reais [!!!]), imagine quando os magistrados conhecerem o Colibri (aquele do ‘Bolete’, do ‘Carrinho de pipoca’….) ou a Tati Quebra Barraco. Vai o PIB nacional da última década em indenizações por danos morais. Deixa só a Justiça ouvir ‘Dako’.

Analisando a letra, “Tapinha não dói” não é preconceituosa, não carrega apologia à violência nem submete a mulher aos caprichos de um pretenso macho-dominador. Mas dar um tapinha em música marginal é fácil. Então que tal condenar Jimi Hendrix por lançar ‘Hey Joe’ em 67, já que sua letra descreve o assassinato de uma mulher pelo marido que a flagra com o amante na cama e em seguida foge para o México? E condenar os Ramones por lançar ’53rd and 3rd’? Esse é o título da música que se refere a um ponto de prostituição nova-iorquino, que canta as aventuras de um garoto de programa que mata a navalhadas seu cliente, um travesti, só prá provar que é muito macho. E condenar a ‘Vaca Profana’ de Caetano? Não questiono aqui o instante poético, a qualidade musical, a profundidade ou o conhecimento formal do letrista/músico. Mas, como diz o cantor de ‘Dona das divinas tetas/Derrama o leite bom na minha cara”: “(…) Eu também sei ser careta/De perto, ninguém é normal”. Bater em bêbado é fácil, não?

Segundo a Folha de S. Paulo de 29 de março, a mesma ação pedia a condenação da Sony Music pelo lançamento da música “Tapa na cara”, do Pagodart, e da União, por permitir que as músicas chegassem ao público. Mas só a Furacão 2000 foi condenada pela Justiça Federal. A corporação (do tapa) foi inocentada, o produtor independente (do tapinha) não.